COVID-19: A SOBRECARGA DE TRABALHO NA LUTA PELA VIDA. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM.

COVID-19: A SOBRECARGA DE TRABALHO NA LUTA PELA VIDA. REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM.

COVID-19: WORK OVERLOAD IN THE FIGHT FOR LIFE. SOCIAL REPRESENTATIONS OF NURSING PROFESSIONALS.

COVID-19: SOBRECARGA DE TRABAJO EN LA LUCHA POR LA VIDA. REPRESENTACIONES SOCIALES DE LOS PROFESIONALES DE ENFERMERÍA.

Fábio da Costa Carbogim - Universidade Federal de Juiz de Fora. ORCID: 0000-0003-2065-5998

Ricardo Tarcísio de Oliveira Medeiros - Mestrando em Enfermagem pela Universidade Federal de Juiz de Fora. ORCID: 0009-0000-9793-3293

Geovana Brandão Santana Almeida - Universidade Federal de Juiz de Fora. ORCID: 0000-0003-3865-9727

Rosilene Rocha Palasson - Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. ORCID: 0000-0003-1474-7503

Marcelo da Silva Alves - Universidade Federal de Juiz de Fora. ORCID: 0000-0003-0311-1673

RESUMO

Objetivo: Conhecer as representações sociais de profissionais de enfermagem que atuaram no atendimento aos pacientes acometidos pela COVID-19 diante da sobrecarga de trabalho. Método: Estudo de natureza descritiva com abordagem qualitativa utilizando como referencial a Teoria das Representações Sociais. O cenário foi um hospital que atendeu pacientes acometidos pela COVID-19. Os participantes foram profissionais de enfermagem. Os dados se deram através de entrevistas semiestruturadas. A análise ocorreu conforme a perspectiva de Bardin.Resultados: As representações retrataram condições de trabalho identificando desgaste mental diante em um cenário de inúmeras incertezas, de modo a suprir as necessidades exigida pela crise sanitária, impactando diretamente na sua saúde mental. Conclusão: Possibilidade da construção de um modelo de assistência que reestruture no processo de trabalho da enfermagem, minimizando possíveis sobrecarga de trabalho associados à sua saúde mental, otimizando assim a melhoria das suas condições de trabalho, fortalecendo respostas rápidas e precisas quando necessárias.

DESCRITORES: Enfermagem; Doença pelo Novo Coronavírus (2019-nCoV); Teoria das Representações Sociais; Esgotamento Psicológico.

ABSTRACT

Objective: To learn about the social representations of nursing professionals who worked in the care of
patients affected by COVID-19 in the face of work overload. Method: A descriptive study with a qualitative approach,using the Theory of Social Representations as a reference. The setting was a hospital that treated patients affected by COVID-19. The participants were nursing professionals. The data was collected through semi-structured interviews. The analysis took place according to Bardin's perspective. Results: The representations portrayed working conditions identifying mental exhaustion faced in a scenario of countless uncertainties, in order to meet the needs demanded by the
health crisis, directly impacting on their mental health. Conclusion: The possibility of building a care model that restructures the nursing work process, minimizing possible work overload associated with their mental health, thus optimizing the improvement of their working conditions, strengthening quick and precise responses when necessary.

Keywords: Nursing; New Coronavirus Disease (2019-nCoV); Social Representations Theory; Psychological Exhaustion

RESUMEN

Objetivo: Conocer las representaciones sociales de los profesionales de enfermería que han trabajado
en el cuidado de pacientes afectados por COVID-19 ante la sobrecarga de trabajo. Método: Estudio descriptivo con enfoque cualitativo, tomando como referencia la Teoría de las Representaciones Sociales. El escenario fue un hospital que atendía a pacientes afectados por COVID-19. Los participantes fueron profesionales de enfermería. Los datos se recogieron mediante entrevistas semiestructuradas. El análisis se realizó según la perspectiva de Bardin. Resultados: Las representaciones retrataron condiciones de trabajo que identifican agotamiento mental enfrentado en un escenario de innumerables incertidumbres, para atender a las necesidades demandadas por la crisis de salud, impactando directamente en su salud mental. Conclusión: Es posible construir un modelo de atención que reestructure el proceso de trabajo de enfermería, minimizando la posible sobrecarga de trabajo asociada a su salud mental, optimizando así la mejora de sus condiciones de trabajo, fortaleciendo respuestas rápidas y precisas cuando sea necesario.

Palabras claves: Enfermería; Nueva Enfermedad por Coronavirus (2019-nCoV); Teoría de la Representación Social; Agotamiento Psicológico

RECEBIDO: 20/07/2023
APROVADO:
04/08/2023

INTRODUÇÃO:

Em dezembro de 2019, foi notificado em escala mundial o aparecimento de um patógeno de origem desconhecida no qual evoluiu para um surto pandêmico sem precedentes, se disseminando de forma rápida em vários países, gerando grande impacto econômico e social, sendo este declarado como emergência de saúde pública e de importância global para o combate ao mesmo, fazendo com que vários países se preparassem para o enfretamento de uma possível pandemia 23-24.

Esta doença foi caracterizada como uma síndrome respiratória aguda grave causada por um novo tipo de coronavírus, denominado SARS-CoV2, caracterizando a COVID-19, sendo assim uma infecção respiratória que acometia os seres humanos. Este vírus possui esta denominação em decorrência de sua aparência em forma de uma coroa. Sua descoberta deu-se após amostras de secreções broncoalveolares em um grupo populacional infectados por uma pneumonia de etiologia desconhecida, em uma província chinesa, na cidade de Wuhan, em dezembro de 2019, onde foram identificados aproximadamente 27 casos de uma Síndrome Aguda Respiratória, sem etiologia, sendo sete desses casos evoluindo em sua forma mais grave 10.

Comunidades cientificas chamaram atenção de todos os profissionais de saúde e da saúde, no sentido de um esforço global com o objetivo para a redução da disseminação do vírus entre as populações de risco. Destacou-se que o meio de contágio se daria por disseminação das gotículas e por contato físico, enfatizando a importância do distanciamento social, higienização correta das mãos, lavagem e aplicação de solução antisséptica e uso de máscara que cobrissem as vias aéreas a fim de que o indivíduo não levasse suas mãos às mucosas, bem como impedir que o vírus não se espalhasse em superfícies e demais objetos, pois na época do surgimento do vírus ainda se desconhecia sobre qualquer forma de tratamento que pudesse amenizar a disseminação da doença entre as populações, sejam elas de risco ou não. Atualmente, reconhece-se que além das medidas protetivas para disseminação do vírus, a vacinação tornou-se outro meio de impedir a propagação da doença 4.

Estudos apontaram que as informações, associados as grandes tecnologias atuais, poderiam sensibilizar a população para adotarem ações eficazes e contribuir para um sistema benéfico de resultados. Vários órgãos internacionais e nacionais, tais como a Organização Mundial de Saúde, Organização Panamericana de Saúde, Fundação Oswaldo Cruz, contribuiriam para a elaboração de diretrizes e normas de rápida resposta e dinâmica ao enfretamento ao novo coronavírus, baseados nas evidências epidemiológicas à medida que o vírus foi estudado.

Todas as informações foram, de fato, necessárias para a implementação de ações que buscassem melhores resultados na assistência à saúde aos pacientes acometidos pelo novo coronavírus, de modo que qualificassem profissionais de saúde que atuaram na linha de frente desta pandemia, garantindo de fato a qualidade e eficácia no atendimento. Muitos destes profissionais, em destaque a equipe de enfermagem, encontram-se a sombra das dúvidas que circundaram seus pensamentos.

O medo e a ansiedade, associadas ao precário processo de trabalho, além das extensivas jornadas de trabalho, meios insalubres, descansos inadequados, além da falta de obra diante do contexto pandêmico fizeram como que esses profissionais adotassem este tipo de comportamento, pois se fez presente algo ainda “desconhecido”, sendo os profissionais de enfermagem àqueles que fizeram maior parte do corpo de profissionais de saúde que trabalharam na linha de frente da pandemia, Concomitante a isto, outras incertezas pairavam sobre seus pensamentos, tais como: disseminação da família em seu âmbito familiar, medo de contrair a doença e a manifestação sobre seu corpo, além dos riscos inerentes à profissão 14.

Apesar da profissão ter sido reconhecida como “heróis”, devido ao árduo trabalho desenvolvido neste período, suas habilidades ao enfrentar uma doença sem tratamento, produzindo e contribuindo para a sociedade em geral, foi notório perceber que a enfermagem foi a maior força de trabalho nos diversos cenários de assistência à saúde. Em contrapartida, o desgaste físico foi intensificado diante deste cenário, impactando de forma negativa na vida desses profissionais.

Além da sobrecarga física, os profissionais se viram diante de situações geradoras de angústias, decorrente do número elevado de pessoas contaminadas, que em sua maioria necessitavam de cuidados intensivos, óbitos decorrentes da doença, mudança na rotina no seu processo de trabalho, a redução do quadro de colaboradores, nos quais muitos foram infectados na época, além de óbitos de profissionais decorrentes da mesma,  ultrapassaram o limite do desgaste físico, afetando diretamente nas condições de sua saúde mental, onde observou-se o desenvolvimento de transtornos psicológicos, tais como estresse, ansiedade e depressão, síndrome do pânico e síndrome burnout, impactando negativamente no processo de trabalho das unidades de saúde.

As instituições hospitalares se depararam diante de medidas que pudessem corroborar com a qualidade de vida destes profissionais, principalmente no aspecto social e mental, reconhecendo que o adoecimento dos profissionais contribuiu para a redução de recursos humanos qualificados para o enfretamento desta pandemia.

À partir do descrito acima, pretendeu-se investigar os profissionais de enfermagem que atuaram diretamente da linha de frente da COVID-19, na prestação de cuidados ao paciente acometido pela pandemia, trazendo à tona as representações sociais destes profissionais evidenciado sobretudo mental, por se tratar de um cenário de incertezas vivenciadas, visto a equipe foi o epicentro da pandemia, atuando em diferentes redes de atenção à saúde.

Desta forma, este estudo teve como objetivo conhecer as representações sociais de profissionais de enfermagem que atuaram na linha de frente no atendimento aos pacientes acometidos pela COVID-19 e os seus impactos sobre a sobrecarga de trabalho.

MÉTODO DA PESQUISA:

Estudo de natureza descritiva com abordagem qualitativa utilizando como referencial teórico-metodológico a Teoria das Representações Sociais, tendo sua criação elaborada por Serge Moscovici, com objetivo de compreender uma realidade social produzida por indivíduos através de uma abordagem processual, por ser esta capaz de considerar os aspectos psicossociais do processo que vão além do biológico nos diversos grupos sociais, identificando a interação entre alguma coisa (objeto) e alguém (sujeito) 12, 13, 15.

 O fenômeno é complexo, com aspectos sociais sem a pretensão de quantificá-los, percorrendo o entendimento do contexto social e cultural dos profissionais que fizeram parte desta pesquisa, sendo de grande relevância para esse tipo de investigação 1, 6, 18.

Fizeram parte deste estudo 26 profissionais de enfermagem, nas categorias de técnicos de enfermagem e enfermeiros, sendo 20 profissionais do sexo feminino e 06 do sexo masculino. O cenário da pesquisa foram unidades de internação selecionadas para o atendimento aos pacientes acometidos pela COVID19, em um hospital terciário de referência para este atendimento.

Para a obtenção dos depoimentos foi utilizada a técnica de entrevista semiestruturada, facilitando ao pesquisador uma abordagem de entrevista flexível. Além disto, este tipo de entrevista inclui “suposições que são explicitas e imediatas, que podem ser expressas pelos entrevistados de forma espontânea ao responderem a uma pergunta aberta, sendo estas complementadas por suposições implícitas. .

Como critérios de inclusão, optou-se por profissionais de enfermagem que atuaram em unidades de internação que atenderam pacientes acometidos pela COVID-19 e que desenvolveram cuidados diretos a estes pacientes, com experiência no campo de profissional de no mínimo seis meses de trabalho ininterruptos, com faixa etária entre dezoito e cinquenta e três de idade. Os critérios de exclusão foram profissionais de enfermagem que estiveram de férias no período da coleta dos dados e que apresentaram atestados médicos não relacionados ao novo coronavírus. A coleta de dados ocorreu entre os meses de junho a agosto de 2022.

A análise e interpretação dos dados se deram segundo a Análise de Conteúdo de Bardin, método utilizado para analisar os dados de uma pesquisa qualitativa, buscando compreender a produção das informações obtidas, de forma objetiva e sistemática, no qual o mesmo propõe em seus estudos classificar a análise de conteúdo de dados em três etapas distintas, sendo estas organizadas em pré-análise, exploração do material e tratamento dos dados, inferência e resultados 5.

A pesquisa foi submetida à Comissão de Ética da Universidade Federal de Juiz de Fora, obedecendo os princípios da autonomia, beneficência, não maleficência e justiça, de acordo com a Resolução nº 466 de 12 de dezembro de 2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), sob o número do parecer: 5.329.768 e assim encaminhada à Direção de Ensino da instituição que foi realizada a investigação e também à Comissão de Ética da mesma sob o número do parecer: 5.423.627 3.

RESULTADO:

Foi possível identificar que a sobrecarga decorrente da pandemia mudou a rotina do serviço dos profissionais de enfermagem, trazendo sentimentos de medo, angústias e ansiedade associadas a um patógeno de origem desconhecido, modificando o processo de trabalho de enfermagem, de modo a ocorrer um esforço para suprir as demandas que o ambiente exigia na época, provocando um processo de luta pela vida, configurando em uma desestruturação no processo de trabalho, relacionado a sobrecarga e desta forma, comprometendo não somente a qualidade da assistência, mas de sobremaneira o impacto no aspecto de sua saúde mental 10.

O DISCURSO ANALISADO: A SOBRECARGA DE TRABALHO X LUTA PELA VIDA.

Sabe-se que ao longo da história da enfermagem no Brasil, a profissão sofre com a sobrecarga de trabalho, justificadas pela má remuneração da classe, somado a isso a inúmeros plantões em diferentes instituições com o objetivo de tentarem obter uma renda que garantisse uma sobrevivência a partir das atividades exercidas, além da precarização das condições de trabalho, falta de insumos necessários para atenderem as demandas dos pacientes infectados, negligências de alguns gestores em não oferecerem meios dignos e seguros que garantissem a segurança desse trabalhador, e ainda as incertezas de afastamento do trabalho e desistência da profissão pela doença dos demais pares 2, 8.

Foi notório reconhecer que devido ao cenário que estes profissionais vivenciaram durante a pandemia, as suas condições de trabalho prejudicaram a qualidade da assistência prestadas pelos mesmos. Tais condições de trabalho repercutiram negativamente na saúde dos trabalhadores, resultado do cansaço excessivo justificadas pelas intensas jornadas de trabalho que estes exerceram, até o processo de adoecimento mental 11.

Ao longo da história, o conceito do trabalho tem sido um assunto amplamente discutido pela área da sociologia, sendo este capaz de possuir um grande valor para as atividades afirmadoras da vida do indivíduo, instaurando-lhe um caráter social, capaz de oferecer uma superioridade humana comparada aos demais seres. Conjuga-se desta forma algo realizador ao humano, capaz de oferecê-los fontes de riquezas e bem materiais, pois o homem possui uma capacidade de realizar suas funções de forma livre e universal, oferecendo desta forma uma construção de sua existência.  

Analisando todo o processo que ocorreu na pandemia, muitos dos profissionais que se depararam com a doença não se encontraram em um ambiente favorável e digno de se tornar algo realizador. Pelo contrário, os profissionais de enfermagem encontram-se ambientes desfavoráveis, de depararam com as más condições de trabalho, sobrecarga, ritmo intenso, jornadas extensas, desgaste físico e mental, estresse ocupacional, conflitos interpessoais, baixa remuneração e a desvalorização profissional, potencializadas no decorrer da pandemia e somadas a diversos outros novos fatores que exigem atenção das categorias de enfermagem sobre o exercício de suas profissões em tempos atuais, para análises prospectivas do trabalho em saúde que exercem e proteção de garantias das suas condições de trabalho e da segurança do paciente 2.

Foi perceptível que as condições de trabalho repercutiram negativamente na saúde dos trabalhadores, resultado do cansaço, dando notoriedade ao processo de trabalho dos profissionais de enfermagem, provocando desta forma o impacto sobre a questão física e mental desses trabalhadores 16.

As falas representadas abaixo configuram as afirmações referenciadas acima:

(...) na minha percepção foi muito desgastante, tanto porque os profissionais acabaram adquirindo a doença e o desgaste também, não só físico, mas mental, porque a gente perdeu muito paciente com a COVID. E o que mais foi difícil foi o desgaste emocional (E-02).

(...) eu vi que a sobrecarga de trabalho deixou todo mundo exausto. (...) durante o ápice da pandemia em si, todo mundo trabalhou sem muito pensar, sem nem muito assimilar. Acho que ninguém estava entendendo o que tinha acontecido. Estava todo mundo exausto, cansado, abalado e ninguém sabia como lidar com aquilo (E-04)

(...) primeiro instante foi medo. Medo, insegurança. Nós não tivemos assim muita opção, tínhamos que enfrentar mesmo. Não teve jeito. A gente não teve tempo de se preparar, principalmente psicologicamente. À princípio pra mim, eu senti muito medo, muita insegurança (TE-08).

Foi um sobrecarga tanto laboral, quanto psicológica, por conta de medo da transmissão, principalmente por parentes mais próximos, pai, mãe, tios (...), mesmo no caso a contaminação, a gente sempre estava naquele medo, tudo muito novo, a gente ouvia muita coisa e eu também procurei pesquisar bastante coisa... (TE-07).

Reconhece-se desta forma que a enfermagem se pôs diretamente ligada nos cuidados aos pacientes acometidos pela pandemia, cercados de incertezas e medos e no desafio diário acerca de suas competências técnicas, ultrapassando os limites físicos, potencializando suas emoções e sentimentos, o que desencadeou uma sobrecarga emocional ao lidar com a doença. Vivenciaram jornadas que ultrapassarão o limite humano, aumentado o cansaço emocional, desenvolvendo assim, doenças como depressão, ansiedade e uso de medicamentos relacionados as doenças provocadas por esta situação de crise sanitária 20.

Possível considerar que tais sentimentos viessem se intensificariam diante de algo desconhecido por todos os profissionais envolvidos neste contexto, sendo esperado sentimentos de tristeza, ansiedades, uso de medicamentos, desistência da profissão, comportamentos e pensamentos desorganizados, decorrentes de um estresse agudo, e que pode impactar em transtornos mentais à longo prazo 19.

A sobrecarga de trabalho refletida no cotidiano dos profissionais de enfermagem, diz respeito não apenas a parte física, mas, sobremaneira a parte emocional. Ao discursarem sobre as suas atividades diárias, trazem o cansaço físico fortemente atrelado à carga emocional de perdas/mortes diárias de pacientes e, por vezes, dos seus pares, além das contaminações entre a equipe de trabalho, levando aos afastamentos por longos tempos, sobrecarregando toda a equipe que, precisava se desdobrar para atender a demanda.

As representações abaixo destacam o considerado acima:

(...) na minha percepção foi muito desgastante, tanto porque os profissionais acabaram adquirindo a doença e o desgaste também, não só físico, mas mental, porque a gente perdeu muito paciente com a COVID. E o que mais foi difícil foi o desgaste emocional (E-01).

Cansaço mesmo, o estresse mediante a tudo isso, porque era quase que não tinha muito o que se fazer, você fazia de tudo (...), então um estresse muito grande mesmo (TE-03).

A gente saia daqui cansado mesmo porque a mente da gente estando cansada, o físico fica, porque pra gente estar com o físico bem tem que ter uma mente tranquila. Você já saia com aquele pensamento de como será o próximo plantão, como é que vai ser (TE-09).

Pode-se dizer que a enfermagem foi um grupo de profissionais que mais constituíram alto risco de contaminação pela COVID19, justificados pela maior força de trabalho existentes nas redes de saúde, além do risco eminente à exposição ao vírus, por se tratar de uma classe que se associa diretamente pacientes infectados, sejam na sua forma mais branda ou aqueles acometido com alta carga viral, além das condições de trabalho que foram oferecidos pelas redes de atenção à saúde no surgimento da pandemia, frequentemente inadequadas. 

CONCLUSÃO:

Foram a partir das representações construídas pelos participantes que se chegou a possibilidade da construção de um modelo de assistência que possibilite uma reestruturação no processo de trabalho da enfermagem, principalmente no que tange o processo de sua saúde mental. A otimização para o enfrentamento da pandemia depende da capacidade de como as instituições poderiam minimizar possíveis sobrecarga de trabalho associadas ao processo de saúde mental, intervindo sobre seus fundamentos no interior do processo de trabalho, adotando uma dinâmica universal, considerando que a enfermagem representa dentro das instituições de saúde o maior número de profissionais que atuam diretamente com os pacientes, neste caso a pandemia que ocorreu no final de 2019. Faz-se necessário, desta forma, que as instituições possam intensificar as medidas necessárias para ofereçam melhorem condições de trabalho, buscando recursos do sistema de saúde para estes profissionais, como redes de atenção à saúde mental, com profissionais devidamente capacitados para atendê-los, ofertas de melhorias das condições de trabalho, vigilância em saúde ao trabalhador, como implementação de ações que se preocupem com o individual e coletivo, decorrente do medo que se fez presente devido as consequências geradas pela COVID-19, além do fortalecimento da ciência para respostas rápidas e precisas que forem necessárias a serem tomadas quando assim identificadas. 

REFERÊNCIAS:

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