PERFIL DAS INTERNAÇÕES POR DIABETES MELLITUS E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA: UM ESTUDO DESCRITIVO

PERFIL DAS INTERNAÇÕES POR DIABETES MELLITUS E HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA: UM ESTUDO DESCRITIVO

PROFILE OF HOSPITALIZATION FOR DIABETES MELLITUS AND SYSTEMIC ARTERIAL HYPERTENSION: A DESCRIPTIVE STUDY

PERFIL DE HOSPITALIZACIÓN POR DIABETES MELLITUS E HIPERTENSIÓN ARTERIAL SISTÉMICA: UN ESTUDIO DESCRIPTIVO

Carlos Antonio de Lima Filho - Graduando em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco – Centro Acadêmico de Vitoria (UFPE-CAV),Departamento de Enfermagem, Rua Alto do Reservatório. ORCID: 0000-0001-5517-0347

Jean Scheievany da Silva Alves - Graduado em Enfermagem Pela Universidade Federal de Pernambuco – Centro Acadêmico de Vitória (UFPE-CAV), Departamento de Enfermagem, Rua Alto do Reservatório. ORCID: 0000-0002-3693-3676

Maria Julya Santos Lobo - Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Tiradentes (UNIT).
ORCID: 0000-0003-3821-5704

Tatiana Costa Schuster Farias - Graduanda em Medicina pelo Centro Universitário Tiradentes (UNIT).
ORCID: 0009-0003-5733-7640

Adriano de Lucena Jambo Cantarelli - Graduando em Medicina pelo Centro Universitário Tiradentes (UNIT). ORCID: 0000-0003-4035-5191

Patrícia Gomes de Souza Sabino - Graduando em Enfermagem pelo Centro Universitário Tiradentes (UNIT). ORCID: 0000-0002-0110-6160

Beatriz Nunes da Silva - Enfermeira e Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Doutora em Enfermagem pela Universidade de Pernambuco (UPE). ORCID: 0000-0002-1011-8964

RESUMO

Objetivo: analisar o perfil as internações por Diabetes Mellitus (DM) e Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) no estado de Pernambuco no período de 2018 a 2022. Metodologia: estudo epidemiológico descritivo, documental, com abordagem quantitativa sobre as internações médicas em consequência de DM e HAS no estado de Pernambuco, presentes no Sistema de Informações Hospitalares. Resultados: Houve 36.605 internações médicas, sendo 27.721 (75,73%) relacionadas a DM e 8.884 (24,27%) a HAS, com um gasto total de R$33 milhões. Houve maior prevalência de internações nas mulheres (51,29% e 58,62%), idosos (54,11% e 58,62,0%), pardos (81,41% e 63,92%) e oriundos emergência (91,29% e 95,57%). Em relação a morbimortalidade hospitalar, as maiores taxas foram encontradas nas mulheres (54,91% e 57,01%) e em idosos (72,84% e 83,76%). Conclusão: foi evidenciado que a DM e HAS é importante causa de internação no estado de Pernambuco, gerando uma alta pressão sobre os serviços de saúde.

Descritores: Diabetes Mellitus; Hipertensão; Saúde Pública; Internação Hospitalar.

ABSTRACT

Objective: To analyze the profile of hospitalizations for Diabetes Mellitus (DM) and Systemic Arterial Hypertension (SAH) in the state of Pernambuco from 2018 to 2022. Methodology: This is a descriptive epidemiological study with a quantitative approach on medical admissions due to DM and SAH in the state of Pernambuco, which are included in the Hospital Information System. Results: There were 36,605 medical admissions, of which 27,721 (75.73%) were related to DM and 8,884 (24.27%) to
SAH, with a total cost of R$33 million. There was a higher prevalence of hospitalizations among women (51.29% and 58.62%), the elderly (54.11% and 58.62.0%), brown people (81.41% and 63.92%) and people coming from emergencies (91.29% and 95.57%). With regard to hospital morbidity and mortality, the highest rates were found among women (54.91% and 57.01%) and the elderly (72.84% and 83.76%). Conclusion: DM and SAH were found to be important causes of hospitalization in the state of
Pernambuco, generating a high level of pressure on health services.

Keywords: Diabetes Mellitus; Hypertension; Public Health; Hospitalization.

RESUMEN

Objetivo: Analizar el perfil de los ingresos hospitalarios por Diabetes Mellitus (DM) e Hipertensión Arterial Sistémica (HAS) en el estado de Pernambuco entre 2018 y 2022. Metodología: Se trata de un estudio epidemiológico descriptivo con enfoque cuantitativo sobre los ingresos médicos por DM e HSA en el estado de Pernambuco, registrados en el Sistema de Información Hospitalaria. Resultados: Hubo 36.605 internaciones médicas, de las cuales 27.721 (75,73%) se relacionaron con DM y 8.884 (24,27%) con HSA, con un costo total de 33 millones de reales. Hubo mayor prevalencia de hospitalizaciones en
mujeres (51,29% y 58,62%), ancianos (54,11% y 58,62%), morenos (81,41% y 63,92%) y personas procedentes de urgencias (91,29% y 95,57%). En cuanto a la morbimortalidad hospitalaria, las tasas más elevadas se encontraron entre las mujeres (54,91% y 57,01%) y los ancianos (72,84% y 83,76%). Conclusión: La DM y la HSA fueron encontradas como una de las principales causas de hospitalización en el estado de Pernambuco, generando un alto nivel de presión sobre los servicios de salud.

Palabras claves: Diabetes Mellitus; Hipertensión; Salud Pública; Hospitalización.

RECEBIDO: 07/07/2023
APROVADO: 02/08/2023

INTRODUÇÃO

As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs) constituem como uma das maiores geradoras de morbimortalidade no Brasil e no mundo, e são responsáveis por um considerável número de incapacidade, perda da qualidade e vida e morte prematura1-2. As DCNTs pressionam de maneira significativa crescente os sistemas de saúde, e geram danos na economia dos países, reduzindo o crescimento economico2-3. Geralmente as DCNTs possuem múltiplos fatores de risco, são tipificadas por um início gradativo, de longa duração e um incerto prognostico final4.

Os determinantes socioeconômicos são fatores primordiais que influenciam no aumento e na maior gravidade das DCNTs, além disso, possuem fatores de risco modificáveis, que possibilitam uma abordagem de intervenção populacional e de políticas públicas para sua prevenção e controle1-2. É estimado que as DCNTs sejam responsáveis por 41 milhões de morte anualmente no mundo, sendo uma parcela significante em indivíduos em idade prematura (30 – 69 anos), no Brasil, são responsáveis por cerca de 76% dos óbitos, sendo a maioria considerada morte prematura1.

No cenário brasileiro, a Diabetes Mellitus (DM) e a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) são consideradas as principais DCNTs que mais impactam a vida social, coletiva populacional e os serviços de saúde5. O DM é um distúrbio endócrino-metabólico causado por uma persistente hiperglicemia, acima dos 126 mg/dL, habitualmente causada por uma produção insuficiente da insulina (DM-1) e/ou deficitária ação da insulina (DM-2). Dados apontam que cerca de 387 milhões de pessoas possuem DM a nível mundial, estimando-se que em 2035, esse número pode alcançar 471 milhões6.

Segundo as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial de 2020, a HAS é caracterizada por níveis pressóricos acima do normal, isto significa, PA sistólica maior ou igual a 140 mmHg e/ou PA diastólica maior ou igual a 90 mmHg, medida em pelo menos duas ocasiões diferentes, na ausência de medicação anti-hipertensiva7. Os dados sobre a prevalência da HAS no Brasil variam de acordo com a metodologia utilizada na pesquisa, de acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde de 2013, 21,4% da população adulta autorrelataram HAS, enquanto, considerando as medidas de PA aferidas e uso de medicação anti-hipertensiva, o percentual alcançou 32,3% da população adulta7.

Devido ao impacto que a DM e a HAS ocasionam na saúde pública, o Ministério da Saúde (MS), elaborou em 2002 o Programa de Hipertensão Arterial e Diabetes (HiperDia), que tem como função principal organizar a assistência prestada aos doentes8. O HiperDia garante aos seus usuários medicação gratuita, consultas com equipe multiprofissional e especialista, e realização de exames complementares quando solicitados, também é possível registrar informações do usuário, como dados clínicos, dose de medicamentos ingeridos, quantidade de insulina usada e se ocorreram complicações relacionadas às doenças8,9.

No Brasil, os custos estimados de doenças cardiovasculares aumentaram em 17% de 2010 a 2015, alcançando R$ 37,1 bilhões, incluindo os custos estimados por morte prematura, custos diretos com internações e as perdas de produtividade relacionados à doença, em relação ao DM os dados ainda é mais alarmante, aumentando de US$1,4 milhão para US$2,6 milhões10.

Inteirar-se sobre os custos com tratamento de doença pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é importante, uma vez que, possibilita avaliar a sua intensidade na economia, e avaliar os impactos das políticas de controle10. No entanto, ainda é escasso na literatura estudos de como a DM e HAS se comportam nos serviços hospitalares em Pernambuco, não sendo possível dimensionar se os programas de controle para as doenças têm apresentado a eficiência esperada. Perante o exposto, o objetivo desse trabalho foi analisar o perfil as internações por DM e HAS no estado de Pernambuco no período de 2018 a 2022.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo epidemiológico descritivo, documental, com abordagem quantitativa, realizado por meio de dados secundários oriundos do Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), do MS, sobre as internações médicas acerca dos casos de DM e HAS no estado de Pernambuco.

A população de estudo foi formada por pacientes internados devido a DM e HAS no estado de Pernambuco, com um tempo mínimo de 24 horas. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IGBE), Pernambuco é um dos nove Estados da Região Nordeste (NE), com um território de 98.067.877 km2, e uma população de 9.058.155 habitantes, divididos em 184 municípios e o Arquipélago de Fernando de Noronha11.

As informações utilizadas para determinar o perfil das internações por DM e HAS no estado de Pernambuco nos anos de 2018, 2019, 2020, 2021 e 2022 foram: número de internação, gasto anual, sexo, faixa etária (1 aos 19; 20 aos 39; 40 aos 59; e 60+), caráter de atendimento (emergencial e eletivo), número de mortes e taxa de mortalidade por sexo e faixa etária. A coleta de dados ocorreu de junho a julho de 2023, através do SIH/DATASUS, disponível no Tabnet (http://tabnet.datasus.gov.br/).

Os dados foram analisados se utilizando a estatística descritiva do Microsoft Excel Versão 2019, em que foi realizada, a princípio, uma análise descritiva e, posteriormente, a elaboração de gráficos e tabelas. Foram elencados para a análise a taxa de mortalidade por 100.000 habitantes. As bases de dados Google Acadêmico e Biblioteca Virtual em Saúde e a Scientific Electronic Library Online (SciELO) foram utilizadas para a pesquisa bibliográfica.

O presente estudo utiliza dados secundários do SIH/DATASUS, que armazenam dados de domínio público, sem identificação, não sendo necessário a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) para sua realização, como prever a resolução 510/2016 do Conselho Nacional de Saúde12.

RESULTADOS

No período estudado houve 36.605 internações médicas devido a agravos gerados por DM e HAS, sendo 27.721 (75,73%) relacionadas a DM e 8.884 (24,27%) a HAS. No Gráfico 1 é apresentado a distribuição anualmente, verificou-se que, entre todos os anos estudados, a DM apresentou o maior número internação, com o seu pico máximo em 2022 (5.872/21,18%) e o mínimo em 2020 (5.122/18,48%). Em relação a HAS, é visto que o pico máximo ocorreu entre 2018 (2.109/23,74%) e 2019 (20,88/23,50%), e assim como a DM, ocorreu uma queda no ano de 2020 (1.464/16,48%), prosseguindo até seu grau mínimo em 2021 (1.451/16,33%).

Gráfico 1. Tendência temporal das internações relacionadas a DM e HAS em Pernambuco, 2018 a 2022

No Gráfico 2, é possível observar os gastos financeiros relacionado as internações, é visto que, exceto o ano de 2020, houve evolução durante todo o período, ocorreu uma significante diferencia dos gastos com DM (R$26.277.476,54) em comparação com a HAS (R$7.545.668,63), uma diferença de cerca de 348,25%. É observado uma constante evolução dos gastos relacionados a DM, atingindo seu pico máximo em 2022 (R$6.550.916,18/24,93%), aumentando cerca de 20,63% em comparação com o ano anterior e 41,06 com o início do recorte temporal estudado. Diferentemente da DM, os dados mostram uma variação dos gatos relacionados a HAS, atingindo seu pico máximo em 2019 (1.886.576,61/25,00%), apesar do significativo aumento de 23,55% de 2021 a 2022, é visto que ocorreu um decréscimo de 7,90% dos gastos do início ao final do recorte temporal em estudo.

Gráfico 2. Tendencia dos gastos financeiro relacionado a DM e HAS em Pernambuco, 2018 a 2022

Em relação as variáveis sexo, faixa etária e raça, a Figura 2, mostra uma tendência semelhante entre as internações, com uma prevalência em indivíduos do sexo feminino, representando 51,29% das internações por DM e 58,62% das de HAS. A faixa etária mais prevalente foi das pessoas acima dos 60 anos (DM-54,11% / HAS-58,62%), seguida dos indivíduos dos 40 aos 59 (DM-28,57 / HAS-28,62). Em contrapartida, é observado que a terceira faixa etária mais atingida pela DM foi dos indivíduos de 0 aos 19 (8,91%) e quanto na HAS foi dos 20 aos 39 (13,30%). Em ambas as condições a maioria dos indivíduos foi de raça parda, em 81,41% dos internados por DM e 63,92% por HAS, ainda nessa variável, é observado que uma boa parte dos dados não foi informada a raça dos indivíduos. Na Figura 1 ainda é apresentando caráter de atendimento, é visto que a origem mais frequente das internações em ambas as condições foi oriunda de uma situação de urgência (DM – 91,29% / HAS – 95,57%).

Figura 1. Tendencia das internações por DM e HAS segundo o sexo, faixa etária, raça e caráter de atendimento em Pernambuco, 2018 a 2022

Fonte: Autores, 2023. Segundo dados do SIH-DATASUS

Na Tabela 1 e 2 é exposto a proporção de óbitos e a taxa de mortalidade hospitalar, segundo sexo e faixa etária, com um total de 1.323 óbitos, sendo 1.009 (76,27%) relacionada a DM e 314 (23,73%) a HAS. Na análise da Tabela 1, é visto que, em ambas as condições analisadas, houve um predomínio de óbitos entre as mulheres (DM-54,91% / HAS-57,01%), apesar disso, em relação a HAS, a taxa de mortalidade foi maior entre os homens. Examinando a Tabela 2, constata-se que a mortalidade hospitalar, em ambas as condições foi entre o público idoso (DM-72,84% / HAS-83,76%), também é observado uma taxa de mortalidade considerável no público dos 0 aos 19 anos.

Tabela 2. Tendencia dos óbitos e taxa de mortalidade hospitalar por DM e HAS segundo faixa etária em Pernambuco, 2018 a 2022

 

DISCUSSÃO

É observado uma tendencia de estabilidade nas internações por DM, dados também semelhantes a outros estudos presentes na literatura13-16. Os pacientes diabéticos são mais suscetíveis a internações, como também, necessitam de maior suporte clínico em unidade de terapia intensiva17. A DM apresenta uma alta taxa de morbidade e mortalidade hospitalar, as complicações da doença, por exemplo, a hipoglicemia, doença renal do diabético e a neuropatia, levam uma grande demanda de assistência médica hospitalar, gerando superlotações nos serviços de saúde14,15.

Houve um crescimento de 61,8% de pacientes diagnosticados com DM, em um período de dez anos, sendo uma possível explicação para uma maior prevalência de internação nesse grupo, porém, também pode estar associado a falhas da Atenção Primaria a Saúde (APS) aos portadores de diabetes13,15. Os dados demonstram que houve um declínio das internações por HAS, como presente em outros estudos14,16, essa característica pode ser fruto da melhor atuação da APS na assistência às doenças cardiovasculares em relação a DM18.

As doenças cardiovasculares e o DM estão entre as doenças que estão entre as principais causas de mortes prematuras do Brasil, além disso, sobrecarregam os sistemas de saúde, devido aos gastos com o tratamento10. As condições estudadas geraram um impacto de R$33 milhões de reais aos cofres públicos. No presente estudo percebeu-se que os gastos relacionados a DM apresentaram uma maior prevalência em relação a HAS, em contrapartida aos dados apresentado, um estudo19 mostrou que os gastos com a HAS foram mais significativos.

Os gastos financeiros oriundos da DM são onerosos para a sociedade, as internações por DM e suas complicações foram responsáveis, respetivamente, por 6,7% e 51,4% anualmente durante o período de 1999 e 200120. A DM ainda pode gerar um impacto de 2,2% dos MS. Segundo a American Heart Association, em 2009, estima que HAS gerou um impacto de $73 bilhões nos Estados Unidos, em âmbito nacional, foi visto que no período de 2008 a 2012, as internações por HAS geraram um custo total de R$106.745.152,7621.

A DM e HAS são consideradas Condições Sensíveis à Atenção Primária (CSAP), ou seja, uma APS eficiente pode reduzir a internação, e consequentemente, os gastos relacionados a essas condições. Apesar disso, ainda é escasso na literatura estudos de como essa condição afeta financeiramente o sistema de saúde18.

É visto que o sexo feminino apresenta uma maior prevalência de internamento, dados semelhantes aos apresentados em outros estudos14,15,22,23. No mundo inteiro, os dados apontam que não há diferenças entre homens e mulheres na prevalência da de DM e HAS, apesar de haver uma preponderância de crises hipertensivas entre as mulheres21. A resposta para essa divergência não é conhecida, alguns autores relacionam há menores níveis de educação e/ou ao uso inapropriado dos medicamentos, entre as mulheres, outros apontam que a maior frequência de hospitalização entre as mulheres é resultado do maior contato delas com a APS21.

Outra possível explicação está associada ao desconhecimento dos sinais, sintomas e complicações do DM e HAS pelos homens, não apresentando uma boa importância aos níveis glicêmicos e da PA14. É observado uma maior prevalência de morte entre o público feminino, como apresentando em outros estudos14,25,26, contudo, em divergência com os dados apresentados, esses mesmos estudos apontam que a maioria das mortes é ocasionada pela HAS. Estudos26 apontam que das doenças associadas a fatores de risco cardiovascular, apenas a presença de DM se associou à hipertensão. É possível associar os óbitos por HAS a crises hipertensivas, que levam a um aumento exagerado e repentino da PA, gerando lesões graves há órgãos alvos14.

A uma maior exposição do público feminino as doenças de origem cardiovasculares, como exemplo, a dislipidemia, DM, HAS e obesidade, em consequência disso, a um aumento de risco de morte para essas condições, as diferenças hormonais e genéticas entre os sexos também pode ser fator que influencia essa caracterica14. O NE, é uma das regiões que apresentam um dos maiores índices de pobreza do Brasil, devido a isso, seus habitantes apresentam duas vezes mais chance de evoluir para óbitos durante a internação por DM, sendo resultado da má atuação da APS no controle das doenças20,25. Nessa mesma perspectiva, pode haver subnotificação dos óbitos, uma vez que, em muitos casos, na declaração de óbito, não é mencionado a doença, mas sim as complicações acarretadas pelas DM e HAS13.

Pesquisas atuais27 apontam que a DM e HAS são doenças que apresenta uma alta predominância em indivíduos idosos, indo de encontro com os achados desse estudo, mostrando que a maioria dos casos em pessoas maiores dos 60 anos em ambos os desfechos. Os dados apresentados mostram que quanto mais velho o indivíduo, maior a chance de ser internado devido a DM e HAS, semelhante a encontrados em outros estudos27. Em uma pesquisa realizada com o público idoso, foi constatado que, 69% dos entrevistados possuem DM e/ou HAS28.

Estudo presente na literatura aponta que existem uma ligação entre o envelhecimento e a hereditariedade no desenvolvimento de DM2, principalmente relacionados aos fatores fisiológicos do envelhecimento, característica que pode explicar mais internamento relacionada a doença nesse grupo29. A HAS é uma das principais doenças de origem cardiovasculares de alta prevalência e incidência no público idosos, sendo o principal fator de risco que gera complicações no sistema cardiovascular, originando uma variedade de doença, por exemplos, cerebrovasculares, arterial coronariana, arterial periférica, insuficiência cardíaca ou insuficiência renal crônica30.

Os idosos estão mais vulneráveis a morte por HAS, uma vez que, por questões fisiológica, o aumento constante da PA, gera efeitos negativos ao musculo cardíaco, mudanças anatômicas e funcionais levando a uma Hipertrofia Ventricular Esquerda (HVE)14,31. Um maior número de morte em idosos pode ser resultado da associação dos efeitos nocivos gerados pelas DM e HAS com a carga de doenças e incapacidades decorrente do processo de envelhecimento25.

Analisando a cor ou raça notificados, é visto que boa parte das internações foram em indivíduos que se alto declaravam pardos, apesar da importância epidemiológica, poucos estudos abordam essa variável. A prevalência de HAS em mulheres negras pode chegar a 130% superior em comparação as brancas, podendo estar associado a fatores genéticos, menor taxa de acesso a APS, piores condições de vida e a discriminação racial25,32. Uma pesquisa realizada pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas, mostrou não haver uma variação de raça em doenças crônicas, em contrapartida, algumas doenças como a HAS se mostraram mais prevalente em pessoas pardas/negras, devido aos baixos níveis de renina no organismo25.

A DM e HAS está incluindo no grupo das doenças do Manual de Doenças Mais Importantes, por Razões Étnicas, na População Brasileira Afrodescendente33. Outro fator primordial para uma maior prevalência em pessoas parda, é o fato do maior convívio desse grupo com situação de vulnerabilidade social, principalmente em questões que envolvem a alimentação saudável e o acesso a APS, deixando-os mais susceptível a quadros mais graves, e consequentemente maior internação hospitalar. Ainda nessa variável, e percebível que uma parcela significante não teve a informação sobre a raça informada, podendo comprometer o planejamento de políticas públicas eficiente para o combate dessa condição25.

Quanto ao caráter de atendimento, houve um predomínio de internação hospitalar por urgência, dados semelhantes a outros estudos13. Essa condição pode ser resultante da falta de autocuidado, buscando atendimento apenas quando a condição se agrava, mais também a dificuldade de acesso a APS e/ou a baixa efetividade sobre a HAS e a DM13. Apouca adesão ao tratamento medicamentoso e não medicamentoso por pacientes hipertensos e diabéticos também pode ter relação com os dados supra indicado.

Este apresenta determinadas limitações, a principal é que os dados são oriundos de de um banco de dados público secundários, o SIH-DATASUS, podendo estar susceptível a erros de notificação e subnotificação. Porém, os dados apresentados pode ser uma ferramenta importante para analisar os efeitos dessa condição sobre o estado de Pernambuco.

CONCLUSÃO

O presente estudo mostrou que a DM e HAS são importantes causa de internação no estado de Pernambuco, sobrepondo sobre os serviços de saúde um alto custo financeiro. A maior frequência de registro de internação ocorreu na faixa etária maiores de 60 anos e no público feminino, como também os dados de morbimortalidade hospitalar. Os dados ainda expõem que o maior número de internação ocorreu por caráter de urgência, e na população parda.

A partir dos resultados desse estudo, foi possível descrever o perfil dos pacientes internados em decorrência da DM e HAS, no estado de Pernambuco, com a intenção elaborar ações de promoção da saúde para esta população, minimizando os indicadores de internação e mortalidade. Espera-se que esta pesquisa possa servir de referência para novos estudos dessas condições no estado de Pernambuco, que até então é pouca estudada, que analise mais profundamente os gastos públicos relacionados. 

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