AVALIAÇÃO DA SATISFAÇÃO DA AUTONOMIA PROFISSIONAL DE ENFERMEIROS NO CUIDADO ONCOLÓGICO

ASSESSMENT OF THE SATISFACTION OF PROFESSIONAL AUTONOMY OF ONCOLOGY NURSES

EVALUACIÓN DE LA SATISFACCIÓN DE LA AUTONOMÍA PROFESIONAL DE LAS ENFERMERAS DE ONCOLOGÍA

Ana Hélia de Lima Sardinha. Enfermeira. Professora. Doutora em Ciências Pedagógicas e Docente do curso de Enfermagem pela Universidade Federal do Maranhão – UFMA. São Luís (MA), Brasil. ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-8720-6348 

Kássia de Fátima Sousa do Nascimento. Enfermeira. ORCID ID: https://orcid.org/0000-0001-7724-8926 

Maria de Fátima Santos Sales. Acadêmica de Enfermagem da Universidade Federal do Maranhão - UFMA. ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-8471-4064 

Sara Maria Ferreira de Sousa. Enfermeira do Hospital da Rede SARAH. Mestre em saúde ambiente.ORCID ID:  https://orcid.org/0000-0003-4183-3861 

Amanda Silva de Oliveira. Enfermeira do Hospital Universitário Materno Infantil. Mestre em Enfermagem.  ORCID ID: https://orcid.org/0000-0003-0787-9989 

Alynne Radoyk Silva Lopes. Enfermeira. Mestre em Programa de Pós-Graduação em Enfermagem.  ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-6661-1555 

Méllany Pinheiro Cacau. Enfermeira. Mestranda em Saúde e Ambiente pela Universidade Federal do Maranhão. ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-7734-9759

Maria de Fátima Santos Sales

Universidade Federal do Maranhão. Bacanga, São Luís, Maranhão, Brasil. ORCID ID: https://orcid.org/0000-0002-8471-4064

RESUMO

Objetivo: Avaliar a satisfação da autonomia profissional de enfermeiros no cuidado oncológico. Método: Estudo descritivo, transversal e de abordagem quantitativa, com 48 enfermeiros. Com base nisso, foi aplicado um questionário sociodemográfico e profissional para a obtenção dos dados. E para avaliação da satisfação dos profissionais acerca da autonomia no trabalho foi aplicado o Índice de Satisfação Profissional (ISP). Resultado: Há prevalência de mulheres (93,75%), idade de 25 a 48 anos, brancos e pardos 45,83% cada; solteiros (56,25%), renda mensal superior a 4 salários mínimos (52,08%). De acordo com os resultados obtidos, os enfermeiros referem possuir autonomia em suas atividades. Conclusão: A autonomia resulta em profissionais mais realizados profissionalmente, logo é recurso e indicador de quão satisfatório é o ambiente de trabalho.

DESCRITORES: Enfermagem; Satisfação no trabalho; Autonomia profissional; Oncologia.

ABSTRACT

Objective: To evaluate the satisfaction of the professional autonomy of nurses in oncologic care. Method: Descriptive, cross-sectional study with a quantitative approach, with 48 nurses. Based on this, a sociodemographic and professional questionnaire was applied to obtain the data. And to evaluate the satisfaction of professionals about autonomy at work, the Professional Satisfaction Index (ISP) was applied. Results: There is a prevalence of women (93.75%), aged 25 to 48 years, white and brown 45.83% each; single (56.25%), monthly income above 4 minimum wages (52.08%). According to the results obtained, nurses report having autonomy in their activities. Conclusion: Autonomy results in more professionally accomplished professionals, so it is a resource and indicator of how satisfactory the work environment is.
DESCRIPTORS: Nursing; Job satisfaction; Professional autonomy; Oncology.

RESUMEN

Objetivo: Evaluar la satisfacción de la autonomía profesional de las enfermeras en los cuidados oncológicos. Método: Estudio descriptivo, transversal, con enfoque cuantitativo, con 48 enfermeras. En base a ello, se aplicó un cuestionario sociodemográfico y profesional para obtener los datos. Y para evaluar la satisfacción de los profesionales sobre la autonomía en el trabajo, se aplicó el Índice de Satisfacción Profesional (ISP). Resultados: Predominan las mujeres (93,75%), de 25 a 48 años, blancas y morenas 45,83% cada una; solteras (56,25%), ingresos mensuales superiores a 4 salarios mínimos (52,08%). De acuerdo con los resultados obtenidos, las enfermeras declaran tener autonomía en sus actividades. Conclusión: La autonomía resulta en profesionales más realizados profesionalmente, por lo que es un recurso e indicador de cuán satisfactorio es el ambiente de trabajo.
DESCRIPTORES: Enfermería; Satisfacción laboral; Autonomía profesional; Oncología.

RECEBIDO: 11/12/2022

APROVADO: 23/01/2023

INTRODUÇÃO

O câncer se encaixa nas doenças não transmissíveis, de caráter crônico e na grande parte das vezes, incapacitante, que requer cuidados contínuos tanto em meio hospitalar quanto domiciliar, devido aos elevados índices sequelas e limitações geradas pela mesma. Apresentando repercussões de ordem epidemiológica, econômica e social(1).

Ao receber o diagnóstico de câncer, tanto a pessoa, como sua família e seus vínculos têm o medo do sofrimento durante o tratamento, a incerteza da cura e o medo da morte, sendo descritos como sentimentos inevitáveis ao paciente oncológico e a sua família. Desta forma, a equipe de enfermagem tem papel fundamental neste contexto, dando, apoio e compreensão, agindo com empatia e humanização(2).

A enfermagem está presente em diferentes etapas do cuidado, integrando a família ao tratamento, minimizando o sofrimento infantil, buscando a promoção de ações de controle da dor, bem como reconhecendo os sinais e sintomas da doença(3). O que constitui grande desafio para os profissionais, entre eles, os enfermeiros, que mantém contato contínuo com estes pacientes e seus familiares, não somente no cuidado físico, assim como na questão emocional, social, cultural e espiritual, bem como auxiliando em reintegrá-lo à sociedade com o máximo de autonomia(4).

De acordo com Marques (2018), a qualidade de vida no trabalho é o grau de satisfação que o trabalhador tem com as funções exercidas e com o local em que trabalha. A satisfação de um profissional no ambiente de trabalho não é algo que diz respeito somente a ele; esta é uma questão que deve ter a devida atenção por parte dos gestores, afinal, a satisfação do colaborador está completamente ligada aos bons resultados que a empresa deseja alcançar(5).

A enfermagem é caracterizada por altas demandas de trabalho, baixo controle sobre as atividades realizadas, bem como contato frequente com dor, sofrimento e morte, configurando-se como uma das profissões mais estressantes(6). Ainda, os profissionais de enfermagem estão expostos à carga horária de trabalho excessiva, ao tempo de descanso insuficiente, à possibilidade de realização do trabalho em turnos, à fadiga, ao prejuízo à realização de atividade física e atividades de lazer, à alteração do ciclo sono-vigília(6). Todo esse contexto, pode influenciar diretamente na saúde desse trabalhador, afetando assim seu desempenho e sua satisfação.

Como já exposto, os profissionais de enfermagem são submetidos a diversos fatores que ocasionam sobrecarga de trabalho. O impacto sobre a saúde e a vida destes trabalhadores relaciona-se com a percepção de alta demanda nas situações rotineiras e dificuldades no enfrentamento diante das exigências profissionais  estabelecidas(7). A insatisfação com o trabalho pode desencadear diminuição da realização pessoal e redução da autoestima.

Segundo Oliveira(8), o grau de insatisfação do enfermeiro pode prejudicar a harmonia e estabilidade dentro do local de trabalho, consequentemente, a satisfação do paciente, pois intrinsecamente está relacionada ao cuidado prestado pelo profissional, indicando que uma percepção negativa do usuário é reflexo de uma assistência não efetiva   dentro do sistema.

Ter estratégias para enfrentar o sofrimento, alcançar a satisfação profissional e a qualidade no cuidado são, nesse ambiente, vinculadas à capacidade e as condições disponíveis para realização de atividades que auxiliem ao paciente, ou seja, ter autonomia e meios de melhorar a condição do usuário também é um fator importante para o sentimento satisfatório(9). Autonomia e eficiência do enfermeiro oncológico geram felicidade e servir ao próximo gera algo maior que a si mesmo(10), pois ter o controle de todo o processo de trabalho relacionando-se  à prática do saber traz motivação(11).

No estudo de Gouveia et al.(12), evidencia-se que a autonomia é um fator importante de satisfação, pois demonstra, entre outras coisas, poder de decisão, reconhecimento da qualidade de seus atendimentos e confiança do gestor.

Ferri et al.(13), fala que é importante conhecer o índice de satisfação dos servidores, pois a partir desses dados pode criar meios positivos para contribuir ainda mais para satisfação e reduzir dentro das possibilidades da instituição os fatores negativos.

Essa pesquisa tem o objetivo de avaliar a satisfação da autonomia profissional de enfermeiros no cuidado oncológico.

MÉTODO

Este estudo caracteriza-se como descritivo transversal e de abordagem quantitativa, desenvolvido no Hospital do Câncer, em São Luís, Maranhão. A pesquisa foi realizada de fevereiro a março de 2019. Foi utilizada uma população intencional de profissionais com formação superior em Enfermagem, com n= 48, que se adequaram aos critérios de inclusão. Os critérios de inclusão foram: profissionais de enfermagem vinculados ao local; homens e mulheres; adultos; tempo de serviço na instituição mínimo de 6 meses. De exclusão: enfermeiros de férias ou afastados por licença maternidade ou doença no período da coleta de dados. Para obtenção dos dados foi aplicado um questionário sociodemográficos e profissional. E para avaliação da satisfação dos profissionais acerca da autonomia no trabalho foi aplicado o Índice de Satisfação Profissional (ISP). O ISP foi criado por Stamps, em 1997, e adaptado e validado para a língua portuguesa em 1999 por Lino. O instrumento possibilita identificar a satisfação atribuída e percebida pelos enfermeiros em relação a seis componentes do trabalho: Autonomia, Interação, Status Profissional, Requisitos do Trabalho, Normas Organizacionais e Remuneração(12). O ISP é composto de duas partes, a primeira é um pareamento comparativo dos componentes para que o profissional escolha o termo mais importante para sua satisfação, o que fornece a satisfação atribuída. A segunda parte é constituída por 44 enunciados, 22 positivos e 22 negativos, distribuídos de forma aleatória em uma escala de atitude do tipo Likert, de sete pontos, variando de “concordo totalmente” a “discordo totalmente”, e mede a satisfação percebida(14).

Tomou-se a decisão de restringir o estudo ao componente autonomia da escala de atitude, avaliando apenas a satisfação quando a autonomia no trabalho. Logo, a versão do instrumento utilizada na pesquisa se resumiu aos seus 8 enunciados, sendo estes, três enunciados positivos e cinco negativos.

Além disso, a escala de atitude, que originalmente contém 7 pontos, indo de discordo inteiramente (7) a concordo inteiramente (1), aqui foi reduzida a 5 pontos, de discordo total (5) a concordo total (1). Para preservar o anonimato dos participantes, os questionários foram identificados pela letra E, e em seguida pela ordem numérica de preenchimento do questionário.

As informações foram armazenadas no programa Excel 2010 em tabelas, dividido os dados sociodemográficos e o questionário sobre a autonomia, e realizada análise estatística por meio do programa Stata®. Na análise do questionário de autonomia, primeiramente os itens negativos e positivos foram organizados de forma aleatória. Posteriormente, foi criada uma matriz de distribuição de frequência das respostas, agrupando as respostas “concordo total”, “concordo”, “discordo total”, “discordo” e “em dúvida”. Para a análise dos dados, foi considerado os valores de 1 a 5 para as respostas, aumentando da direita para a esquerda.

Ficando, portanto: discordo total (1), discordo (2), em dúvida (3), concordo (4) e concordo total (5). Logo, para os enunciados positivos quanto maior a pontuação final, maior o índice de satisfação em relação à sua autonomia real, e para os negativos, quanto menor a pontuação, maior a satisfação. As variáveis categóricas foram descritas por meio de frequências e porcentagem e as variáveis quantitativas com média e desvio padrão. A normalidade dos dados quantitativos foi verificada com o Shapiro Wilker. Os cálculos estatísticos utilizaram o p-valor = 0,05 e índice de confiança (IC) = 95%.

Esta pesquisa faz parte de um projeto maior intitulado: Homens e mulheres com câncer: significados, percepções e implicações, aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com parecer consubstanciado no número 1.749.940. E obedeceu às normas presentes na resolução nº 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, que faz referência a estudos envolvendo seres humanos.

RESULTADOS

Através dos resultados sociodemográficos encontrados, constatou-se a prevalência expressiva do sexo feminino, 93,75%. Quanto à idade, 58,33% possuem idade ≥ 30 anos, a média gira em torno dos 32 anos, e vale ressaltar que não há pessoas idosas, pois, a faixa etária varia entre 25 e 48 anos. Em termos de cor/raça, há prevalência das raças branca e parda com 45,83% cada, enquanto somente 6,25% são pessoas autodeclaradas negras.

Dos participantes da pesquisa, apenas 39,58% são casados, a maioria refere-se como solteiros, 56,25%. Enquanto, 56,25%, não possuem filhos vivos, e entre os 43,75%, o número máximo de filhos é de 3.

Quanto à remuneração pessoal, 52,08% possui renda igual ou mais de 4 salários mínimos, sendo a média salarial da população de 3,61 salários. Já a renda familiar iguala ou supera os 6 salários em 56,25% dos casos, com média de 6,20. Considerando que 66,67% afirmam que o número de moradores no seu domicílio é menor que 4, pode-se afirmar que o provedor principal desses domicílios é o profissional de enfermagem.

Já em relação às características profissionais, destaca-se a prevalência de 47,72% de ex-residentes, enquanto apenas 6,25% cursaram alguma especialização, 12,50% são mestres, e 33,33% possuem graduação em enfermagem.

Destes trabalhadores, 70,83% sempre trabalharam apenas na área assistencial; 20,83% atuam ou já atuaram alguma vez também no ensino; e 8,33%, atualmente ou anteriormente, prestaram serviço nas áreas de assistência, ensino e pesquisa. 

No quesito tempo de formação, 52,08% são graduados há pelo menos 6 e 10 anos, sendo o maior tempo de formação de 22 anos e o menor de 2. Apenas 12,50% são formados há mais de 10 anos e 35,42% até 5. Quase 48% atua especificamente com oncologia há pelo menos 5 anos ou mais, sendo o tempo máximo de 22 anos; já cerca de 33% trabalham na área há menos de 2 anos.

Com base na carga horária referida, a mínima é de 36 horas semanais e a máxima é de 40 horas, sendo que prevalece a mínima em 95,83% dos casos. Na instituição há 3 regimes de trabalho: diarista, plantonista diurno e plantonista noturno; estes representam respectivamente 81,25%, 2,08% e 16,67%. Porém, mesmo com esses regimes trabalhistas, uma carga horária extensa e uma renda média acima dos 3 salários mínimos, mais de 58% ainda trabalham em outro local, sendo que 4,17% atuam em mais dois locais.

Os resultados encontrados na escala de autonomia, componente do ISP escolhido para a pesquisa, mostra que os enunciados positivos, obtiveram prevalência nos pontos positivos (concordo e concordo total). Agrupando esses pontos resulta em um total de: 77,09%, 33,33% e 72,91%, para cada enunciado.

Quanto aos pontos negativos (discordo e discordo total), os valores foram de 6,25%, 22,92% e 8,33% para discordo, e 2,08% para discordo total para o item 8, já que os outros dois itens não foram citados. Agrupando-os, tem-se: 6,25%, 22,92% e 10,41%, para cada enunciado. 

Para os enunciados negativos, os dados obtidos foram de 68,77%, 47,92%, 66,67%, 70,84% e 64,58%, agrupados. Já para os pontos negativos, os resultados foram 6,25%, 25,00%, 12,50%, 10,42% e 18,75% para concordo, e 4,17%, 6,25%, 2,08% e 4,17%, o item 6 "...meus supervisores tomam todas as decisões, eu tenho pouco controle sobre meu trabalho", não foi citado por nenhum participante. Somando os valores dos pontos negativos, obtêm-se: 10,42%, 31,25%, 14,58%, 10,42% e 22,92%. 

Não houve uma resposta com grande discrepância das demais. Ao agrupar em concordo, neutro e discordo, nota-se que para os enunciados positivos, o valor médio de concordância é de 61,11%. E para os enunciados negativos, a média de discordância é de 63,75%. Obtêm-se, então, uma média total de 62,43%, demonstrando que o índice de satisfação percebida sobre a autonomia dessa população é positivo.

De acordo com os resultados obtidos, os enfermeiros participantes do estudo referem possuir autonomia em suas atividades, o que pode ser evidenciado pela “q02: Eu sinto que tenho participação suficiente no planejamento da assistência aos pacientes.” (77,09% de concordância).

DISCUSSÃO

Com base nos resultados, pôde-se analisar uma prevalência do sexo feminino. Essa característica é associada ao histórico de atuação das mulheres na enfermagem(15). Valores que são corroborados com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre o perfil da enfermagem no Brasil, de 2017, onde 87% dos profissionais de enfermagem eram mulheres(16).

No que se refere à distribuição por faixa etária, a força de trabalho da enfermagem é relativamente jovem. Cerca de 9 em cada 10 profissionais de enfermagem no mundo são do sexo feminino. No Brasil há aproximadamente 35 % dos profissionais com menos de 35 anos e 9 % acima dos 55 anos(16,17).

De acordo com Moreira et al.(19), a idade e o tempo de experiência no trabalho são fatores que têm sido inversamente relacionados ao estresse laboral, consequentemente na satisfação.

Segundo, Nogueira et al.(9), quanto mais jovens e com menos tempo de serviço mais propenso ao estresse é o indivíduo, e portanto à insatisfação. Isso se explicaria pela expectativa elevada sobre o serviço que essas pessoas apresentam, e que quando não atingida acarreta em frustrações. Além de que a inexperiência ao se relacionar com essa insatisfação e estresse pode acarretar em atos de imperícia, afetando na qualidade no serviço e, consequentemente, na autonomia recebida(15,19).

Em relação à cor/raça, houve uma prevalência das raças branca e parda. Essa prevalência também acontece em outras pesquisas(17).

Quanto ao estado civil, a maioria se refere como solteiros.  No entanto, no estudo de Rapozo et al.(11) a prevalência é de casados. Assim como a maior parte dos participantes não possuem filhos vivos, enquanto na pesquisa de Teixeira et al.(19), 59,6% têm filhos. No estudo com 50,53% de casados e 63,07% com filhos, o autor relata que esses profissionais com companheiro tendem a apresentar percepção favorável sobre o ambiente, pois a presença do companheiro fornece suporte para a estrutura psíquica e emocional do profissional. O mesmo pode ser dito quanto a ter filhos(20).

Quanto à remuneração pessoal, os dados se assemelham com a pesquisa de Rapozo et al.(11). Para o autor, a remuneração é um fator mais importante para a satisfação profissional. Entretanto, essa ainda não é uma realidade para a enfermagem, pois uma boa remuneração serve como motivação, além de diminuir a necessidade por fontes extras de renda, diminuindo assim o desgaste físico e mental.

Para Maurício et al.(15), ter capacitação representa para o profissional, o domínio de conhecimentos específicos que resultam de formação e treinamento; quanto melhor capacitado, maior é a probabilidade de serem competentes no exercício de suas funções. Isso promove a satisfação profissional, pois favorece a autonomia e capacidade de tomada de decisões para alcançar as metas e objetivos traçados no tratamento de cada paciente(19). Dados semelhantes ao tempo de formação foram encontrados no estudo de Maurício et al.(15).Este fator pode ser positivo, pois possibilita a colaboração entre os sujeitos e a troca de experiências(18).

Com base na carga horária referida, o trabalho em regime de plantão pode afetar a vida pessoal dos servidores, principalmente daqueles que trabalham no período noturno. Pois, geralmente, se veem ausentes nas reuniões, encontros de família, o que afeta na criação e manutenção de vínculos afetivos que são suporte emocional, considerando que esses vínculos são fonte de apoio para enfrentamento de dificuldades em todos os âmbitos da vida desses indivíduos(15).

Porém, mesmo com esses regimes trabalhistas, uma carga horária extensa e uma renda média acima dos 3 salários mínimos, mais da metade ainda trabalham em outro local, sendo que 4,17% atuam em mais dois locais. Este fator pode estar associado com índice de pessoas com apenas graduação, pois na pesquisa de Teixeira et al.(19), 12 anos foi o tempo de formação, em média, e apenas 39,4% possui outro vínculo empregatício. O autor fala que essa dupla jornada pode favorecer o desgaste físico e mental, principalmente entre profissionais que atuam em setores críticos, pela alta carga de trabalho a que são expostos e menor tempo para descanso.

Sobre os resultados encontrados na escala de autonomia, valores semelhantes são encontrados no estudo sobre a percepção dos enfermeiros acerca de sua satisfação em um hospital privado(12), no serviço de hemato-oncologia(187) e no estudo de Lino(21).

Percebe-se, no entanto, uma porcentagem elevada no item 4, "A mim, quando não é exigida, é permitida uma grande dose de independência", o que também se repete em outro estudo.(21) Acredita-se que há uma dificuldade na compreensão, no entanto, como o questionário é autoaplicável, não havia a possibilidade de responder às dúvidas.

Para os enunciados negativos, houveram resultados que apresentam pequena diferença quando comparados aos dados encontrados nos estudos de Lino(21). Mas, se assemelham aos obtidos em outras duas pesquisas mais recentes(14).

Através dos resultados obtidos, os enfermeiros participantes do estudo referem possuir autonomia em suas atividades, corroborando com estudo de Gouveia(12), sobre os enfermeiros de um hospital privado, onde o autor relata a satisfação apresentada pelos participantes a partir no índice de concordância de 79,6% para participação suficiente no planejamento da assistência aos pacientes.

Porém, revela-se que algumas vezes precisam contrariar seu melhor julgamento profissional. Porém, observou-se que nesse quesito, houve um maior índice de discordância, o que reafirma o sentimento de autonomia dos enfermeiros. Dado semelhante é encontrado na pesquisa no serviço de hemato-oncologia(18).

CONCLUSÃO

Conclui-se que a autonomia resulta em profissionais mais realizados profissionalmente, mas que para isso necessitam ser melhor preparados tecnicamente. Portanto é um importante recurso e indicador de quão satisfatório é o ambiente de trabalho. Porém, ela não pode ser trabalhada e encorajada como fator único de satisfação.

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