ÍNDICE DE OVACE EM CRIANÇAS: OCORRÊNCIAS E CAPACITAÇÃO EM PRIMEIROS SOCORROS

INDEX OF FBAO IN CHILDREN: OCCURRENCES AND FIRST AID TRAINING

ÍNDICE DE OVACE EN NIÑOS: OCURRENCIAS Y CAPACITACIÓN EN PRIMEROS AUXILIOS

                                     Tipo de artigo: REVISÃO DE LITERATURA

                               

                                                                  Autores

Gesiely Oliveira de Souza

Graduanda em Enfermagem pela Universidade de Rio Verde, UniRv

Orcid: https://orcid.org/0009-0003-5669-4179

Camilla Antunez Villagran

Docente em Universidade Rio Verde, Unirv

Enfermeira, Mestre em Enfermagem e Doutoranda em Ciências da Saúde.

Orcid: https://orcid.org/000-0002-9498-3049

Liliane Ferreira Marques Queiroz

Graduanda em Enfermagem pela Universidade de Rio Verde, UniRV

Orcid: https://orcid.org/0009-0004-2089-9516        

Gabriela Andrade Ferreira

Graduanda em Enfermagem pela Universidade de Rio Verde, UniRV

ORCID: https://orcid.org/0009-0004-8738-172X

Paula Cristina de Oliveira Pimenta

Docente em Universidade de Rio Verde, UniRv

Mestre em Enfermagem pela Universidade Federal Fluminense, Niterói

ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1815-4887

Vitória Tereza Sagenite Rodrigues Pulcinelli

Graduanda em Enfermagem pela Universidade de Rio Verde, UniRV

Orcid: https://orcid.org/0009-0001-6699-2001

Joyce Lara de Lima Mendes

Docente em Universidade Rio Verde, Unirv

Enfermeira, Mestre em ciências ambientais e saúde- PUC GO

Orcid: https: https://orcid.org/0000-0002-5059-7349

Gregory Rocha Nascimento

Docente em Universidade de Rio Verde.

Enfermeiro, especialista em Centro cirúrgico, Mestrando em Gestão de Atenção Primária pela Unini.

Orcid: https://orcid.org/0009-0007-7984-2874

RESUMO

Objetivo: O presente estudo tem como objetivo investigar a incidência da obstrução das vias aéreas por corpo estranho (OVACE) em crianças, analisando os contextos onde essa emergência ocorre com maior frequência e propondo estratégias de capacitação em primeiros socorros voltadas à prevenção e intervenção imediata. Material e Métodos: A pesquisa adota como metodologia a revisão integrativa da literatura, permitindo reunir, avaliar e sintetizar estudos científicos publicados entre 2020 e 2025, com foco na eficácia de treinamentos de primeiros socorros oferecidos a pais, educadores e profissionais da saúde. Resultados: Os resultados indicam que ambientes como escolas, creches e residências são os mais propensos à ocorrência de OVACE, sendo a ausência de capacitação um fator agravante. Conclusão: Conclui-se que a implementação de programas educativos contínuos e acessíveis é fundamental para reduzir os índices de mortalidade e promover a segurança infantil, tornando pais e cuidadores mais preparados para agir corretamente diante de emergências.

        

DESCRITORES: Primeiros socorros; Capacitação; Obstrução das vias respiratórias; Crianças.

ABSTRACT
Objective: This study aims to investigate the incidence of foreign body airway obstruction (FBAO) in children by analyzing the contexts in which this emergency most frequently occurs and proposing first aid training strategies focused on prevention and immediate intervention.
Materials and Methods: The research adopts an integrative literature review methodology, allowing the collection, evaluation, and synthesis of scientific studies published between 2020 and 2025, with a focus on the effectiveness of first aid training offered to parents, educators, and healthcare professionals. Results: The results indicate that environments such as schools, daycare centers, and homes are the most prone to FBAO occurrences, with the lack of training being an aggravating factor.Conclusion: It is concluded that the implementation of continuous and accessible educational programs is essential to reduce mortality rates and promote child safety, making parents and caregivers more prepared to act correctly in emergency situations.

DESCRIPTORS: First aid; Training; Airway Obstruction; Children.

RESUMEN
Objetivo: El presente estudio tiene como objetivo investigar la incidencia de la obstrucción de las vías respiratorias por cuerpo extraño (OVACE) en niños, analizando los contextos donde esta emergencia ocurre con mayor frecuencia y proponiendo estrategias de capacitación en primeros auxilios enfocadas en la prevención e intervención inmediata. Material y Métodos: La investigación adopta como metodología la revisión integradora de la literatura, permitiendo reunir, evaluar y sintetizar estudios científicos publicados entre 2020 y 2025, con énfasis en la eficacia de las capacitaciones en primeros auxilios dirigidas a padres, educadores y profesionales de la salud. Resultados: Los resultados indican que entornos como escuelas, guarderías y domicilios son los más propensos a la ocurrencia de OVACE, siendo la falta de capacitación un factor agravante. Conclusión: Se concluye que la implementación de programas educativos continuos y accesibles es fundamental para reducir los índices de mortalidad y promover la seguridad infantil, preparando mejor a padres y cuidadores para actuar correctamente ante emergencias.

DESCRIPTORES: Primeros auxilios; Capacitación; Obstrucción de las vías respiratorias; Niño.

1 INTRODUÇÃO

A obstrução das vias aéreas por corpo estranho (OVACE) em crianças configura-se como um problema de saúde pública de relevância global, representando uma ameaça grave à vida infantil e suscitando preocupação em toda a sociedade. De acordo com o Ministério da Saúde, essa condição é a principal causa de óbito por acidentes entre crianças menores de cinco anos no Brasil [1]. Trata-se de uma tragédia que atinge diversas famílias, muitas vezes de forma súbita e irreparável.

No cenário internacional, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que mais de 200 mil crianças com menos de cinco anos morrem anualmente em decorrência de engasgo com objetos, evidenciando a gravidade do problema e a necessidade urgente de medidas preventivas [2]. A magnitude desses números revela o caráter universal da OVACE, cuja prevenção exige intervenções educativas e estruturadas [3].

Durante a primeira infância, as crianças encontram-se em uma fase intensa de exploração e desenvolvimento, marcada pela curiosidade, experimentação e imaturidade neuromotora. A anatomia infantil, caracterizada por vias aéreas estreitas e capacidade respiratória limitada, torna esse público mais vulnerável à aspiração de objetos [4]. A coordenação motora em formação e a ausência de percepção dos riscos ampliam o potencial de acidentes dessa natureza [5].

A lista de objetos causadores de OVACE é extensa e, por vezes, inesperada: brinquedos pequenos, peças de jogos, sementes, balas, botões, bijuterias, tampas de caneta e canudos são exemplos recorrentes que representam perigos silenciosos e potencialmente fatais [6]. O ambiente doméstico, onde as crianças passam grande parte do tempo, frequentemente contém elementos de risco aos quais estão constantemente expostas.

As consequências da OVACE extrapolam a dimensão física e atingem profundamente o emocional das famílias. O trauma psicológico vivido por pais e responsáveis diante da perda ou da experiência de um episódio de engasgo é significativo, acompanhado por sentimentos como culpa, impotência e medo [3]. A ausência de conhecimento sobre como agir nesses casos agrava o cenário e compromete as chances de sobrevivência.

A desinformação é, portanto, um dos principais entraves à prevenção eficaz da OVACE. Muitos cuidadores, educadores e profissionais de apoio infantil não possuem treinamento adequado para agir em emergências, o que pode resultar em desfechos fatais pela falta de intervenção imediata [4]. A carência de ações educativas voltadas a esse público reforça a vulnerabilidade social frente a tais ocorrências.

Entretanto, a OVACE é uma condição amplamente prevenível. Iniciativas de educação em saúde e capacitação em primeiros socorros demonstram resultados promissores na redução do número de casos, além de empoderarem a sociedade com conhecimentos práticos e salvadores [7]. Capacitar pais, professores e cuidadores é uma estratégia crucial para promover a resposta imediata e correta em situações de risco [8].

A construção de ambientes mais seguros para crianças e a adoção de políticas públicas voltadas à prevenção de acidentes com corpos estranhos devem ser metas compartilhadas por governos, instituições educacionais, profissionais da saúde e a comunidade em geral. A união desses esforços é essencial para que a prevenção da OVACE se torne uma realidade concreta e eficaz [9]. 

Com base nesse panorama, esta pesquisa tem como objetivo analisar a incidência da OVACE em crianças e investigar o nível de capacitação em primeiros socorros entre os adultos responsáveis por seu cuidado, promovendo reflexões sobre estratégias preventivas eficazes.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Tipo de pesquisa

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, um método que permite a síntese de estudos científicos sobre a eficácia de capacitações em primeiros socorros para OVACE, direcionadas a pais, educadores e profissionais que cuidam de crianças, dividida nas seguintes etapas:

  1. Formulação da questão de pesquisa, baseada no modelo PICO (ou outra abordagem adequada para revisões integrativas), para direcionar a busca e seleção dos estudos.
  2. Busca sistemática da literatura em bases de dados cientificas, utilizando descritores controlados e não controlados relacionados a OVACE, primeiros socorros e capacitação de cuidadores.
  3. Seleção e avaliação dos estudos com critérios de inclusão e exclusão bem definidos, garantindo a qualidade metodológica dos artigos analisados
  4. Extração e síntese dos dados, organizando as evidências encontradas em categorias temáticas, como impacto das capacitações, metodologias utilizadas e desafios na implementação dos treinamentos.
  5. Análise crítica e discussão, comparando os achados entre os estudos selecionados e identificando lacunas na literatura.

2.2 Critério de inclusão

Para a seleção dos estudos que compõem esta revisão, foram considerados aqueles que atenderam a critérios rigorosos de inclusão. Primeiramente, os trabalhos deveriam estar publicados em periódicos científicos devidamente indexados em bases de dados reconhecidas internacionalmente, como PubMed, Scopus e LILACS, assegurando a confiabilidade e a relevância das informações apresentadas. Além disso, era indispensável que os estudos abordassem a avaliação da eficácia de capacitações em primeiros socorros voltadas à prevenção e manejo de OVACE, sejam essas de origem acidental, alimentar, vacinal ou relacionadas a condições clínicas específicas, desde que direcionadas a pais, educadores e profissionais que atuam no cuidado infantil.

Outro critério relevante foi a exigência de que os estudos utilizassem metodologias científicas bem estruturadas, sejam elas de natureza quantitativa, qualitativa ou mista, possibilitando uma análise crítica dos dados apresentados. Também foram incluídas apenas as publicações redigidas nos idiomas português, inglês ou espanhol, a fim de garantir a padronização da análise textual e a compreensão dos resultados. Por fim, restringiu-se o recorte temporal à produção acadêmica compreendida entre os anos de 2020 e 2025, com o objetivo de captar estudos atualizados e alinhados às práticas mais recentes no campo da saúde e da educação.

2.3 Critérios de exclusão

Por outro lado, foram excluídos todos os estudos que não abordavam diretamente a eficácia de capacitações em primeiros socorros para situações de OVACE. Também foram descartadas as pesquisas que não tinham como público-alvo pais, educadores ou demais profissionais responsáveis pelo cuidado de crianças, considerando que o foco desta investigação está centrado nesse grupo específico.

Adicionalmente, foram excluídos os estudos que utilizavam metodologias não científicas, como relatos de casos isolados, opiniões pessoais, editoriais e cartas ao editor, devido à sua limitação em termos de validade científica e generalização dos resultados. Trabalhos não indexados em periódicos científicos também foram desconsiderados, assim como publicações duplicadas ou com conteúdo significativamente repetido de outros estudos já incluídos na revisão, com o objetivo de evitar redundância e vieses nos achados.

2.4 Descritores em Saúde

Para a realização da busca nas bases de dados, foram utilizados os seguintes descritores em saúde, de acordo com a terminologia DeCS/MeSH: "Primeiros socorros", "Capacitação", "Obstrução das vias respiratórias" e "Crianças". Esses termos foram combinados estrategicamente entre si, com o objetivo de abranger o maior número possível de estudos relevantes para o tema da pesquisa.

2.5 Quantidade de trabalhos encontrados

A pesquisa nas bases de dados resultou nos seguintes números iniciais de estudos, conforme apresentado no Quadro 1:

Quadro 1: Números iniciais de estudos

BASE DE DADOS

QUANTIDADE DE ESTUDOS ENCONTRADOS

PubMed

9 estudos relacionados a “primeiros socorros”

BVS (Biblioteca Virtual em Saúde)

79 estudos sobre “capacitação em primeiros socorros”

LILACS

801 estudos sobre “obstrução das vias aéreas”

Fonte: Autoria própria (2025).

Após a leitura dos títulos, resumos e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foi realizada a seleção final dos estudos utilizados na presente revisão.

3 RESULTADOS

Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão previamente estabelecidos, foram selecionados 12 artigos científicos para compor a amostra final da presente revisão integrativa. Esses estudos foram publicados entre os anos de 2019 e 2025, contemplando pesquisas realizadas em diferentes países, incluindo Brasil, Estados Unidos, Espanha e Canadá. Os estudos abordam tanto a ocorrência de OVACE em crianças quanto a eficácia de programas de capacitação em primeiros socorros.

Os artigos analisados indicam que a maioria dos casos de OVACE em crianças ocorre no ambiente doméstico, especialmente durante a alimentação ou brincadeiras com pequenos objetos. Crianças com idade entre 1 e 4 anos foram identificadas como as mais vulneráveis, devido ao estágio de desenvolvimento em que ainda exploram o mundo oralmente e não possuem reflexos de deglutição completamente desenvolvidos.

Outro dado relevante presente nos estudos é que, em grande parte dos casos, os responsáveis presentes no momento do incidente não possuíam treinamento adequado em primeiros socorros, o que atrasou a intervenção e, em alguns casos, agravou o desfecho da situação. Os artigos reforçam a importância da ação imediata e correta nesses episódios, destacando a Manobra de Heimlich como o procedimento mais eficaz para a desobstrução das vias aéreas.

Quanto à capacitação, os estudos demonstram que programas de treinamento direcionados a pais, professores e cuidadores são eficazes na redução de complicações e até na prevenção de óbitos por OVACE. As capacitações que utilizaram metodologias práticas, como simulações e o uso de bonecos de treinamento, mostraram resultados mais significativos em termos de retenção do conteúdo e confiança dos participantes em aplicar as técnicas aprendidas.

Diversos estudos também apontam que a inclusão de treinamentos em primeiros socorros no currículo escolar, nas escolas de educação infantil e ensino fundamental, seria uma estratégia eficaz para atingir tanto os profissionais da educação quanto os próprios alunos, aumentando a conscientização e a capacidade de resposta diante de emergências.

Por fim, alguns artigos ressaltaram a necessidade de campanhas de conscientização pública, especialmente em comunidades de baixa renda, onde o acesso à informação e à formação é mais limitado, contribuindo para a vulnerabilidade das crianças a acidentes desse tipo, conforme quadro 2.

Quadro 2: Estudos selecionados

Autor

Ano

Título

Objetivo

Conclusão do Estudo

AMARAL, Mariela S. et al.

2023

Inspire: primeiros socorros diante de situações de OVACE em crianças

Relatar experiência e avaliar a efetividade da intervenção educativa

A intervenção foi eficaz em promover o conhecimento sobre OVACE

BRASIL. Ministério da Saúde

2023

Sistema de Informação sobre Mortalidade - SIM

Fornecer dados estatísticos sobre causas de mortalidade

Os dados são essenciais para políticas públicas de prevenção

CAROLINO, Roseli

2022

Ação educativa sobre prevenção e primeiros socorros de acidentes de engasgo na educação infantil

Desenvolver ação educativa em instituições de ensino infantil

A ação demonstrou aumento no conhecimento e preparo de educadores

DA CRUZ PEREIRA, Mislaine et al.

2023

A extensão universitária na capacitação em primeiros socorros de crianças e adolescentes

Apresentar ações de extensão voltadas à capacitação em primeiros socorros

A capacitação foi bem-sucedida e gerou impacto positivo na comunidade

DA SILVA, Leonardo; MACHADO, Daniel R.

2022

Obstrução de vias aéreas em crianças e lactentes e primeiros socorros em enfermagem

Abordar aspectos teóricos e práticos sobre OVACE na enfermagem

Destaca a importância da formação em primeiros socorros na atuação do profissional

DE MOURA, Vitória A. et al.

2021

Tecnologias educacionais para o ensino de primeiros socorros a pais e educadores

Revisar tecnologias aplicadas ao ensino de primeiros socorros

Tecnologias são ferramentas eficazes para capacitação de leigos

FERREIRA, Caroliny et al.

2022

Prevenção e primeiros socorros de OVACE para crianças

Promover a conscientização sobre prevenção de OVACE

O estudo reforça a necessidade de educação preventiva desde a infância

LANGWINSKI, Adriano et al.

2023

Intervenção educativa sobre OVACE para professores da educação infantil

Avaliar a efetividade de uma intervenção educativa

A intervenção aumentou significativamente o conhecimento dos professores

MARQUES, Sara R. C.

2019

Intervenções especializadas de enfermagem à criança e família em emergência

Descrever práticas de enfermagem em situações críticas

Intervenções especializadas são fundamentais na redução de riscos em emergências

OMS

2023

Estimativa de mortes por engasgo em crianças menores de 5 anos

Apresentar dados globais sobre mortalidade por engasgo

O engasgo é uma das principais causas de morte evitável em crianças pequenas

SALES, Joana M. R.

2023

Letramento em saúde de mães adolescentes no cuidado infantil

Compreender o nível de letramento em saúde de mães jovens

Baixo letramento influencia negativamente no cuidado com a criança

Fonte: Autoria própria (2025).

4 DISCUSSÃO

A OVACE é uma das principais causas de emergências pediátricas, especialmente entre crianças menores de cinco anos. Essa vulnerabilidade está diretamente associada a fatores anatômicos, como o calibre reduzido das vias aéreas, e comportamentais, como a tendência a explorar o mundo com a boca. A curiosidade natural das crianças pequenas, aliada à imaturidade do sistema de deglutição, contribui significativamente para o risco elevado de engasgos acidentais [1].

A literatura demonstra que muitos episódios de OVACE são resultado de supervisão inadequada ou do desconhecimento dos riscos por parte dos cuidadores. Pais e educadores, muitas vezes, ignoram os perigos de determinados alimentos ou objetos inadequados para a faixa etária das crianças. Estudos reforçam que a prevenção depende diretamente da orientação sobre práticas seguras, principalmente no ambiente doméstico e escolar [5].

A maioria dos casos de OVACE inicia-se de maneira súbita, exigindo uma resposta rápida e precisa para evitar consequências graves. Entretanto, grande parte dos responsáveis por crianças desconhece os sinais clínicos iniciais da obstrução, como tosse ineficaz, ausência de som e cianose. Esse desconhecimento retarda a intervenção e, em muitos casos, pode levar ao óbito da criança [4].

Pesquisas indicam que a capacitação em primeiros socorros é essencial para reduzir a mortalidade por OVACE. Treinamentos práticos capacitam pais, educadores e cuidadores a reagirem com mais segurança e eficácia em situações emergenciais. A manobra de Heimlich, por exemplo, quando realizada corretamente, pode ser decisiva nos primeiros segundos da obstrução [3].

Os métodos de ensino interativos, como oficinas presenciais, simulações com bonecos e vídeos explicativos, demonstram maior eficácia na fixação do conhecimento. Participantes submetidos a esses recursos apresentam maior autoconfiança e precisão na execução das técnicas, quando comparados àqueles que apenas assistem a palestras teóricas [9].

Apesar disso, muitos cuidadores relatam que, mesmo cientes dos riscos de engasgos, não adotam medidas preventivas no cotidiano. Esse comportamento demonstra que a informação, por si só, não é suficiente para promover mudanças efetivas. É necessário transformar o conhecimento em hábito, o que só ocorre por meio de capacitações com foco prático e reflexivo [10]. As instituições escolares se destacam como espaços estratégicos para a disseminação de conhecimentos em primeiros socorros. Professores treinados tornam-se agentes multiplicadores, capazes de introduzir conteúdos adaptados às crianças, utilizando jogos e brincadeiras que reforçam a segurança alimentar e comportamental [8].

A obrigatoriedade de capacitações periódicas em instituições de ensino, como já ocorre em alguns países, está associada à redução de mortes por OVACE. No Brasil, a ausência de políticas públicas nesse sentido compromete o alcance dessas formações, especialmente em regiões de maior vulnerabilidade social [6]. A questão financeira também se apresenta como uma barreira importante. Muitas famílias não têm condições de arcar com cursos pagos, o que torna urgente a implementação de capacitações gratuitas, viabilizadas por políticas públicas e parcerias entre governo e sociedade civil [4]. 

Outro desafio enfrentado é o medo de agir em emergências. Muitos cuidadores hesitam em realizar os procedimentos por receio de causar mais danos, o que evidencia a importância das simulações práticas. Vivenciar o procedimento em ambientes controlados contribui para a internalização dos passos corretos e reduz as inseguranças [7].

A articulação entre escolas, unidades de saúde e comunidades pode ampliar o acesso à informação. Oficinas e palestras periódicas, promovidas por profissionais da saúde em escolas e associações, constroem uma rede local de proteção à infância e fortalecem o compromisso com a prevenção [5]. Com o avanço das tecnologias, recursos digitais passaram a integrar estratégias de ensino em saúde. Aplicativos, vídeos educativos e redes sociais contribuem para disseminar conteúdos sobre primeiros socorros, especialmente entre os jovens pais que utilizam a internet como principal fonte de informação [11].

No entanto, a eficácia dessas estratégias digitais depende de fatores como a qualidade do material, o engajamento dos usuários e a realização de práticas supervisionadas. Capacitações exclusivamente virtuais podem não garantir a proficiência esperada, sendo necessárias ações complementares presenciais [10]. Um ponto crítico identificado na literatura é a falta de padronização dos conteúdos oferecidos em cursos de primeiros socorros. Cada instituição adota sua própria metodologia, o que pode resultar em lacunas de aprendizado. A criação de diretrizes nacionais é essencial para uniformizar o ensino e assegurar a qualidade das formações.

Além disso, há evidências de que a capacitação isolada, sem reciclagens periódicas, não garante a retenção do conteúdo ao longo do tempo. A reeducação contínua é fundamental para manter os cuidadores preparados e atualizados diante das práticas mais recomendadas [3]. Inserir o tema de primeiros socorros na formação inicial de professores também é uma recomendação recorrente entre especialistas. Dessa forma, os educadores já ingressariam no mercado de trabalho com habilidades básicas para intervir em emergências, como a OVACE [8].

Outra medida preventiva é a educação das próprias crianças. Por meio de atividades lúdicas, elas podem aprender que certos objetos não devem ser levados à boca, o que diminui os riscos e contribui para a criação de uma consciência preventiva desde cedo [6]. A atuação de profissionais de saúde no contexto comunitário também deve ser ampliada. Enfermeiros e agentes comunitários, ao realizarem ações educativas em creches, escolas e associações, promovem um acesso mais democrático à informação e fortalecem a rede de cuidado [9].

Campanhas de mídia tradicionais continuam sendo relevantes. Televisão e rádio alcançam públicos diversos e são importantes aliados na divulgação de práticas de prevenção e primeiros socorros, especialmente em áreas com pouco acesso à internet [2]. A identificação precoce da obstrução é um fator decisivo para o sucesso da intervenção. Ensinar sinais como ausência de choro, coloração azulada e movimentos respiratórios ineficazes pode salvar vidas, permitindo uma resposta imediata [4].  

A formação em primeiros socorros deve ser considerada um direito das famílias e uma obrigação do Estado. Todos os cuidadores devem ter acesso a treinamentos adequados, como parte de uma política de proteção à infância [1]. O papel do poder público é indispensável, não apenas no financiamento, mas também na estruturação de políticas de prevenção. Incentivos à capacitação gratuita, campanhas de conscientização e regulamentações específicas são medidas urgentes para conter o avanço dos casos [5].

Ambientes mais seguros também envolvem a regulamentação de produtos infantis. É necessário fiscalizar brinquedos, garantir a rotulagem adequada e restringir a comercialização de itens que ofereçam risco às crianças pequenas [11]. Portanto, a prevenção da OVACE e a capacitação em primeiros socorros são ações complementares e indissociáveis. Promover apenas uma dessas estratégias não é suficiente. A proteção integral da criança exige esforços articulados entre educação, saúde e políticas públicas [3]. Frente aos dados levantados nesta revisão, é urgente investir em ações permanentes, acessíveis e amplamente divulgadas. O conhecimento técnico, aliado à prática, tem o poder de transformar vidas e evitar que tragédias previsíveis e evitáveis continuem a ocorrer em lares e instituições [9].

5 CONCLUSÃO

A OVACE em crianças é um evento grave, com potencial de causar desfechos fatais em poucos minutos, caso não haja intervenção adequada e imediata. A análise dos estudos utilizados nesta pesquisa revelou que esse tipo de ocorrência está diretamente relacionado a fatores como a idade da criança, a ausência de supervisão adequada e o desconhecimento dos adultos responsáveis acerca dos procedimentos corretos de primeiros socorros.

Diante disso, é fundamental que medidas preventivas sejam amplamente divulgadas, priorizando ações educativas voltadas à população em geral, especialmente àquelas que convivem diretamente com o público infantil, como pais, professores e cuidadores. Outro aspecto que se destaca na conclusão desta pesquisa é a relevância das capacitações em primeiros socorros como ferramenta essencial na redução dos índices de morbimortalidade por OVACE.

A realização de treinamentos práticos, com ênfase na identificação precoce dos sinais de obstrução e na aplicação correta das manobras de desengasgo, mostrou-se eficaz tanto na formação de multiplicadores quanto no aumento da segurança daqueles que precisam agir em situações emergenciais. Assim, programas regulares e acessíveis de capacitação devem ser incentivados, considerando o impacto positivo que exercem não apenas na resposta imediata a emergências, mas também na construção de uma cultura de prevenção.

Ademais, a escola deve atuar na proteção da vida e na promoção de ambientes seguros, utilizando tanto capacitações presenciais quanto recursos tecnológicos, como vídeos, redes sociais e aplicativos, para disseminar informações sobre prevenção e ação em casos de OVACE, especialmente entre jovens cuidadores.

A pesquisa permite concluir que os índices de OVACE em crianças ainda são preocupantes, mas existem caminhos viáveis e eficazes para reduzir drasticamente esses números. A chave está na prevenção, no acesso democrático ao conhecimento e no preparo prático de quem convive com o público infantil. A vida de uma criança pode depender de segundos. Dessa forma, o investimento em educação e capacitação não é apenas necessário, mas também urgente e inegociável.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[2] Organização Mundial da Saúde. Estimativa de mortes por engasgo em crianças menores de 5 anos [Internet]. 2023 [citado 2024 out 8]. Disponível em: https://www.who.int/news-room/factsheets/detail/child-injury

[3] Da Cruz Pereira M, Silva RA, Moreira TR, Costa LC. A extensão universitária na capacitação em primeiros socorros de crianças e adolescentes. Rev Conexão UEPG [Internet]. 2023 [citado 2024 ago 10];19(1):1-15. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/5141/514174720086/514174720086.pdf

[4] Da Silva L, Machado DR. Obstrução de vias aéreas em crianças e lactentes e primeiros socorros em enfermagem [Internet]. Ubá: Fundação Presidente Antônio Carlos - FUPAC/UBÁ; 2022 [citado 2024 set 11]. Disponível em: https://ri.unipac.br/repositorio/wpcontent/uploads/tainacan-items/282/198968/Leonardo-da-Silva-OBSTRUCAO-DE-VIASAEREAS-EM-CRIANCAS-E-LACTENTES-E-PRIMEIROS-ENFERMAGEM-2022.pdf

[5] Carolino R. Ação educativa sobre prevenção e primeiros socorros de acidentes de engasgo na educação infantil [Internet]. Marília: Universidade Estadual Paulista (Unesp); 2022 [citado 2024 out 13]. 99 p. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/items/14afacb1-1865-402a-b066-c670aee96236

[6] Ferreira C, Souza M, Lima J, Alves F, Santos P. Prevenção e primeiros socorros de obstrução de vias aéreas por corpos estranhos para crianças. Rev Interação [Internet]. 2022 [citado 2024 out 7];4(2). Disponível em: https://revistas.unisagrado.edu.br/index.php/interacao/article/view/315

[7] Marques SRC. As intervenções especializadas de enfermagem à criança e família em situação de emergência [Internet]. Lisboa: Escola Superior de Enfermagem de Lisboa; 2019 [citado 2024 set 16]. Disponível em: https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/32096

[8] Langwinski A, Oliveira M, Santos G, Pereira L. Intervenção educativa sobre obstrução das vias respiratórias para professores de educação infantil: estudo quase-experimental. Rev Gaúcha Enferm [Internet]. 2023 [citado 2024 set 8];44:e20220335. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/index.php/rgenf/article/view/135687

[9] Amaral MS, Silva TS, Moreira AG, Souza RQ. Inspire: primeiros socorros diante de situações de obstrução de vias aéreas por corpo estranho (OVACE) em crianças – relato de experiência e análise da efetividade da intervenção. Rev Conexão UEPG [Internet]. 2023 [citado 2024 out 10];19(1):6. Disponível em: https://doi.org/10.5212/Rev.Conexao.v19.21799.024

[10] De Moura VA, Santos ML, Silva RM, Costa LC. Tecnologias educacionais para o ensino de primeiros socorros a pais e educadores: revisão integrativa. Ciênc Cuid Saúde [Internet]. 2021 [citado 2024 out 7];20. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/355716195

[11] Sales JMR. Letramento em saúde de mães adolescentes e jovens no cuidado de crianças menores de um ano [Internet]. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará; 2023 [citado 2024 ago 11]. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/73921